Voltou pro quarto saltitando, com uma euforia quase infantil. Ele ainda dormia. Se aproximou devagar e beijou levemente os lábios dele. Gabriel abriu os olhos e retribuiu o beijo.
- Marina, pra que acordar tão cedo hoje? Você tá de folga. Volta pra cama!
- De jeito nenhum. Você já viu o sol? Levanta e vamos pra praia porque um dia lindo nos espera lá fora!
- Ah, eu quero dormir mais. Tá tão bom...
- Então tá, eu vou. Fica aí dormindo, perdendo tempo.
Ele achou graça da afirmação e retrucou.
- Porque você acha que dormir é perda de tempo? Dormir é bom.
- Ah, sei lá. O dia tá passando e eu vou ficar dormindo? Fico com a sensação que estou perdendo um pedacinho da minha vida...
- Essa sua vontade de viver é impressionante. É uma coisa linda! Mas, pô, vai com calma! Acho que é por isso que você tem insônia...
- Ah, que legal. Não sabia que você também era médico! Devia relatar seu diagnóstico ao Dr. Ricardo. Talvez ele se surpreenda com a sua descoberta e me receite algum remédio que faça efeito!
- Vai ficar debochando de mim?
- Vou sim!
Gargalhando, ela se despiu. Enquanto ele a observava com um sorriso tímido nos lábios, ela colocava o biquíni.
Repentinamente, ele levantou um questionamento (para ela impensável naquela hora da manhã).
- Você acha que o amor dura pra sempre?
Ela sentou e ficou em silêncio.
- O que foi?
- Tô pensando na resposta! Ah, todo mundo diz que o amor verdadeiro dura pra sempre. Mas minhas experiências me mostram o contrário...
- Tá, mas no que você acredita?
- Posso responder depois? Sabe o que é? Eu procuro não pensar sobre isso. Então, não tenho uma resposta pra te dar agora.
- É que eu fico pensando: se o amor acaba, é porque não era amor? Se o relacionamento acaba e o sentimento não acaba nunca, como é que se resolve? Melhor esquecer e perceber que nunca amou ou correr o risco de continuar amando e não esquecer nunca mais?
- Ai, que difícil! Sinceramente, não sei o que dizer...
Por um momento, uma sombra invadiu o semblante de Marina. Queria saber o que fazer com aquele ponto de interrogação.
- Quando eu for bem mais velha e já tiver vivido muito e descobrir essa resposta, vou te procurar onde você estiver só pra te contar, tá?
Achando a resposta dela engraçada, doce e ao mesmo tempo ingênua, Gabriel abriu um largo sorriso. Aquele sorriso era a calma de que ela tanto precisava.
Ele a puxou para a cama. Abraçado a Marina, cantarolou: “devagar, esquece o tempo lá de fora”. Ela continuou: “devagar, esqueça a rima que for cara”.
Enquanto ela cantava, ele se divertia com a ideia de que aquela resposta jamais viria. Simplesmente, porque não acreditava que ela existisse. Mas aquele instante infinito e sem pressa dos dois na cama valia mais do que qualquer resposta pronta.