segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Síntese carnavalesca


Ok, eu sei que estou voltando tarde. Mas meu cansaço absoluto de quem curte e trabalha no carnaval ao mesmo tempo me impediu. Serei rápida e objetiva porque hoje meu espírito prolixo parece ter ido dar uma volta.

Não posso deixar de registrar meu contentamento com a vitória da Unidos da Tijuca. A escola estava deslumbrante e impressionante. O desfile entrou para a história do carnaval carioca, embora eu ache que a comunidade merecia uma festa mais empolgante do que a que foi realizada na quadra. No dia da tão aguardada vitória, vender a cerveja e ainda por R$ 3,00 foi o Ó, como diria uma amiga minha.


Fiquei muito feliz também com a permanência da União da Ilha no Grupo Especial. A escola fez um desfile bonito e animado. Confesso que fiquei toda arrepiada com o público na Marquês de Sapucaí cantando o samba.

Meu pesar fica por conta da Portela que deixou a desejar e pela Viradouro que fez um desfile mambembe. Deu pena porque a gente sabe o quanto as comunidades trabalham para apresentar o melhor possível na Avenida.


Agora, o momento 'comentário-mulherzinha': o que eram Eriberto Leão e Gerard Butler desfilando? Para alegria da mulherada, os dois ficaram dando sopa por muito tempo na dispersão. Com essa visão não dá nem pra reclamar do trabalho!


E olha que eles não foram os únicos. Aliás, a Sapucaí estava bem mais interessante e menos estressante do que nos últimos anos...


Deixando de lado as brincadeiras, mas não a alegria posso dizer que o carnaval deste ano foi realmente maravilhoso.


Foto: Um dos carros da União da Ilha clicado pelo meu amigo e companheiro de trabalho Genilson Araújo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Alô, Fevereiro

O céu ganha novas e repetidas cores: confetes e serpentinas levados pelo vento, acompanhados de uma estranha alegria que surge sem explicação e toma conta do corpo e da alma. Pular, sambar, brincar, sorrir. Ações inevitáveis. Encontrar quem nunca antes foi visto e reencontrar amigos que sempre estiveram presentes num movimento contínuo de exaltação da felicidade. Por estar vivo. Por estar ali. Simplesmente.



Essa época me remete à infância. As fantasias variavam: baiana, índia, odalisca. Não importa. O brilho nos olhos é o mesmo. Curiosidade diante da passagem dos bate-bolas, característicos do subúrbio da cidade. Meu irmão era um deles. Máscara no rosto, roupa colorida e espalhafatosa. Sombrinha na mão. Vê-lo se vestindo já era uma festa. Mãos sujas com molho de tomate especial do cachorro-quente feito pela mamãe. Rigorosa quanto a nossa alimentação, ela sempre foi avessa a guloseimas. Era apenas no carnaval que o quitute dava o ar da graça.



As estradas da Cacuia e do Galeão interditadas para abrir espaço para a multidão. Todos os anos, o palco montado no mesmo lugar: em frente ao supermercado favorito do meu pai (com sua antiga mania de fazer compras). Uma massa de gente sem diferenças se movendo ao som da batida do tambor. E do pandeiro. E do chocalho. Toda a bateria. Lá vinha a União da Ilha desfilar para a comunidade com a mesma empolgação da Marquês de Sapucaí, quando observada por milhares de pessoas de todos os cantos num espetáculo midiático poderoso.


É incrível perceber o poder do carnaval no inconsciente coletivo do país. Todos os problemas parecem desaparecer ainda que momentâneamente. Afinal, esse é um momento ímpar em que os pobres viram realeza numa reviravolta sociólogica. A falta de dinheiro e as dificuldades de quem 'mata um leão por dia' para sustentar a família dão lugar ao sorriso desmedido e ao suor na fantasia. Ninguém perde o compasso. O som da música dita o ritmo do coração. A dor nos pés é quase um troféu de quem sambou sem parar e não se arrepende por um segundo sequer. Eu cresci compartilhando dessa realidade. Talvez por isso até hoje escute comentários como o de outro dia: "Você deveria ser passista!". Eu acho graça e penso: e quem disse que não sou? Pelo menos de alma, sim. O samba está em mim desde pequenininha.


Aqueles dias e noites eram mágicos. Ainda são.


A expectativa para o desfile desse ano é grande. A possibilidade de acompanhar de perto o retorno da minha escola de coração à elite do carnaval carioca e vibrar também com a passagem da Portela, madrinha da União da Ilha. Duas emoções. Alegria em dobro.


E enquanto o desfile não chega, pular, cantar e sambar como quando eu era criança, acreditando que sempre é tempo de festa. O 'esquenta' começou no sábado com Imprensa Que Eu Gamo e Banda de Ipanema. Tudo bem, eu estava trabalhando. Mas até que o plantão foi bem divertido. Encontrei os amigos, desfilei, sambei. As exceções ficam para os fatos de eu não ter bebido e de, ao término da festa, quando todos ainda curtiam eu ter retornado para a redação para fechar as três matérias que tinha feito no dia e ainda ficar na apuração até às 22h30. Mas tá valendo! Embalada pela música-mantra "Alô Fevereiro", eu decreto: o meu bloco já tá na rua...


Tamborim avisou, cuidado
Violão respondeu, me espera
Cavaquinho atacou, dobrado
Quando o apito chegou, já era

Veio o surdo e bateu, tão forte
Que a cuíca gemeu, de medo
E o pandeiro dançou, que sorte
Fazer samba não é brinquedo

Todo mês de fevereiro, morena
Carnaval te espera
Querem te botar feitiço, morena
Mas também pudera

Se ele pega no teu corpo
Vai ter gente enlouquecida
Querendo entender a tua dança
Querendo saber da tua vida