domingo, 1 de agosto de 2010

Tem, mas tá em falta

Faz um tempão que eu não venho aqui. Mas antes tarde do que nunca, não é?

Hoje, eu queria fazer uma pergunta: por onde anda a gentileza? Alguém a viu passar por aí? Se viu, por favor, diga que nós estamos precisando muito dela para convivermos de maneira mais harmônica. Portanto, volte já e sem demora!

Outro dia estava conversando com uma amiga aqui em casa - num momento chá da tarde (adooooro!) - e ela estava me falando sobre um carinha com quem ela tinha saído pela primeira vez. Ela disse que foi ótimo, mas que não tinha gostado de algumas coisas. Eu, curiosa por natureza, fui logo inquirindo os motivos pelos quais o rapaz teria deixado a desejar. Afinal, cá entre nós, ele é um espetáculo!

Então, ela me disse: ele abriu a porta do carro pra mim, puxou a cadeira para eu sentar no restaurante, foi todo fofo comigo!

Eu, com cara de "desculpe, não compreendi a mensagem", disparei: tá, mas me fala o que te incomodou!

Ela disse: ué, foi isso! Tanta gentileza me soou forçado. Estranho, né?

Moral da história: a gente tá tão acostumada com a grosseria alheia no dia-a-dia, que a gentileza soa mal. Pensei: que horror! É o apocalipse!


Tá, eu exagerei. O mundo não vai acabar por causa disso. Mas que é um horror, é!

Algumas teorias afirmam que esse tipo de comportamento é coisa do mundo atual: a correria, a velocidade dos acontecimentos teriam prejudicado as relações humanas, embrutecido o homem.

Eu concordo em parte. Acho que isso também está diretamente relacionado à educação. Se fosse assim, todos os velhinhos seriam gentis e amáveis. Afinal, são de uma outra época. Definitivamente, isso não é verdade.

Certa vez, vi uma velhinha xingando palavrões na fila do mercado que deixariam a falecida Dercy Gonçalves ruborizada. Recentemente, uma cena no metrô me chocou ainda mais. Quando as portas do vagão se abriram, eu entrei e me encostei na parede. Sempre viajo em pé, mesmo que haja bancos vazios. Não me pergunte o motivo. Nem eu sei.

Mas, voltando ao assunto, depois que eu entrei, uma velhinha seguiu em direção ao banco destinado a passageiros idosos. Antes que conseguisse sentar, surgiu (do nada) um velhinho. Correndo como numa maratona, ele ultrapassou a velhinha e se sentou no banco. A coitadinha ficou com uma cara de decepção! E eu, de espanto. Tanto que fiquei olhando fixamente pra ele. Ele viu que eu reparei e eu fiquei constrangida. Era pra eu olhar para outro lado, certo? Mas eu não conseguia! Continuei olhando pra ele por pelo menos umas três estações.

Enquanto eu olhava, tentava buscar argumentos que pudessem justificar aquela atitude. Será que ele estava se sentindo mal? Será que ele tem algum problema na perna? Na coluna? Será que ele não viu a velhinha? Será que ele é filho da puta mesmo?

Enfim, seja qual for o motivo, foi feio. Muito feio o que ele fez.

Saí do metrô e caminhei pela Santa Clara até chegar em casa. Durante o trajeto, fiquei pensando que só pode ter uma justificativa pra esse tipo de atitude: falta de educação, gentileza com o próximo.

Isso me fez lembrar o rapaz do mercado onde faço compras. Na primeira vez em que fui lá, perguntei pra ele se tinha leite sem lactose. Ele respondeu: tem não, senhora.

A partir desse dia, quase toda semana eu ia lá (enquanto tentava, sem sucesso, me acostumar com leite de soja... argh!). A resposta era sempre a mesma.

Até que um dia eu perguntei: moço, mas será que um dia vai chegar?

Foi então que ele revelou toda a verdade: acho que não vão comprar não, senhora.

Como na famosa pérola do comércio: tem, mas tá em falta.

Só espero que a gentileza chegue. Porque eu posso trocar de mercado, mas não posso mudar de planeta.

Um comentário:

  1. Acho que é aquela velha história: todo mundo quer mas ninguém dá a sua parte! Com a gentileza, com certeza, isso é um fato... E o pior, não podemos fazer nada, a não ser a nossa parte e torcer para que alguém se espelhe nisso e passe adiante!
    bjs

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