quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Literatura e internet de mãos dadas

Vivemos num tempo em que tudo muda muito rápido, as novidades nos sufocam e impõe um ritmo frenético de adaptação dos indivíduos. Os objetos ficam obsoletos do dia para noite e os relacionamentos, cada vez mais instantâneos (É impressão minha ou as pessoas estão ficando assustadoramente superficiais? Aliás, isso é uma constante na minha vida: as pessoas me chocam diariamente pelos mais variados motivos!). Tanta velocidade gera uma série de conflitos nos indivíduos, mas isso é assunto pra outro post. A questão agora é o fato dessa velocidade afetar nossa relação com a literatura e a arte, que quase são engolidas pela tecnologia.

Um dos debates mais interessantes no Café Literário na Bienal do Livro foi sobre o futuro do livro e a possível combinação da literatura com as ferramentas da internet. Em meio às novidades tecnológicas tão atrativas aos olhos de crianças e adolescentes, o livro foi jogado para escanteio. Sabiamente, os autores têm adotado a velha tática: se você não pode com o inimigo, junte-se a ele. Melhor do que isso, estão fazendo da internet sua melhor amiga. Na discussão, os escritores Carola Saavedra, Ivana Arruda e Marcelino Freire contaram como eles utilizam essas ferramentas para divulgar e atrair público para os insubstituíveis (na minha opinião) livros de papel. Eles anunciam lançamentos, divulgam eventos literários e conversam com os leitores virtuais. Alguns autores vão mais longe: postam trechos dos livros na internet como aperitivo. O gostinho de quero mais surge e os internautas vão atrás do prato principal: o livro. Já tem até clássico sendo recriado no Twitter. O Globo on line publicou uma matéria no início do mês informando que a editora Penguin anunciou que comprou os direitos para o livro “Twitterature”, no qual dois estudantes universitários adaptaram para o Twitter “Medéia” e “Madame Bovary”. O livro deve ser lançado na Inglaterra em 5 de novembro.


A ideia é muito boa: fazer com que a literatura se aproprie dessas novas linguagens para renovar seu público e se manter viva. Algumas pessoas são radicais e dizem que essa interação é a única saída para o livro não desaparecer. Eu discordo. Aliás, essas teorias apocalípticas não me convencem. Quando a televisão surgiu, especulava-se que o rádio desapareceria. Isso não aconteceu. O rádio perdeu a majestade para a TV, mas as peculiaridades do veículo – como a velocidade da informação - o fizeram sobreviver, mantendo um público específico e cativo. Agora, as rádios também utilizam a internet como forma de conquistar novos ouvintes-internautas. A mesma discussão existe em torno do jornal impresso. A internet ganhou espaço? Sim. Os jornais se adaptaram com suas versões on line, mas não acredito que isso faça com que o jornal impresso deixe de existir.


Estaria enganada? Talvez. Essa é sempre uma possibilidade. Mas para tentar me defender, uso um fato (concreto): a 14ª Bienal do Livro atraiu 640 mil visitantes este ano, superando as expectativas dos organizadores. Ainda me defendendo, vou partir para o abstrato: nada substitui a magia de folhear um livro; de sentir o cheiro de novo ou velho; de ver as páginas incrivelmente brancas ou irresistivelmente amareladas; de devorar as palavras; de sentir na ponta dos dedos o poder do objeto que nos faz viajar sem sair do lugar; que nos faz viver o imaginável; que seduz; que faz pensar. Tecnologia nenhuma muda minha rotina diária noturna (que tem ares de ritual): levantar a coberta, ajeitar o travesseiro, recostar e abrir um livro.


Lembro da minha mãe lendo para mim clássicos infantis e outros livros nada clássicos como a história da mulher pequenininha, que tinha uma casa pequenininha, usava um sapato pequenininho...


Essa atitude carinhosa da minha mãe fez com que eu tomasse gosto pela leitura. Esse é um hábito que precisa ser incentivado. Por isso, eu acredito que depende de nós passar adiante o interesse pelo livro e mantê-lo vivo.


E por falar em interações com a internet, hoje eu vou deixar aqui uma dica do meu amigo Maurício Martins, âncora da CBN: a rádio GNT (http://www.radiognt.com.br/). A programação é de bom gosto e bem eclética: vai de Gilberto Gil, passando por Titãs, Bon Iver e Little Joy. Vale a pena conferir!

2 comentários:

  1. Querida amiga Priscilla,

    É o tal negócio: a Internet tem uma força de aglutinação impressionate. É preciso dominar-lhes as ferramentas para propulsionar a literatura, o jornalismo, a boa escritura. O problema é que tem gente que faz o contrário. Escraviza-se a tal ferramenta e escreve texto que "cabem" na Internet. A Internet passa a impor um padrão que não se sabe de onde veio. Isso é burrice, é ignorância, é estupidez!

    Beijo, minha querida

    Claudio Renato

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  2. Eu também não acredito que uma coisa vai fazer com que a outra desapareça ou perca a sua magia. Eu uso a internet para encontrar bons livros novos, e saber da opinião de pessoas que já leram os objetos do meu interesse. Já tentei baixar livros, mas, assim como você, gosto de sentir o papel nas mãos.
    Audiolivros também não me atraem, porém contam como iniciativa de inclusão, principalemnte para os deficientes visuais.
    No fundo, no fundo, cada mídia, cada formato, tem o seu espaço.
    Beijo, amiga!

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