terça-feira, 8 de setembro de 2009

Música para a vida


Passo pela gente apressada, entre vozes e gargalhadas bêbadas. Podem me ver, mas não enxergam. Sem rosto nem classificações. Sem a preocupação de parecer, apenas ser. Será que algum dia houve?


No caminho, as sensações. Pés no açúcar granulado flutuam sem direção. O vento segura minha mão e me guia, como uma mãe a seu filho. Sento e espero no espaço desértico. Holofote natural ao longe ilumina a visão do vazio. Reparo com olhos de primeira vez. Cada detalhe de cor; cada tom melódico da sinfonia viva; o cheiro; o gosto. No cenário azul escuro, o movimento, ora suave e lento, ora forte e agressivo. O carinho da brisa e o sussuro em ritmo de mantra. Quase um tributo ao bater do coração. Em meio à tamanha grandeza, por um instante as palavras de Neil Gaiman surgem na minha mente: "que cada um de nós sempre dê ao demônio o que lhe é merecido". O silêncio musical embala o passar do tempo.


A noite se despede, querendo ficar. A bruma surge no horizonte de onde meus olhos não desviaram por um só segundo. Amanhece o dia e os primeiros raios de sol quentes e vibrantes anunciam um novo concerto. O mar - fiel companheiro na viagem existencial - ainda está ali, ansioso para sentir meu corpo. Mergulho ao meu encontro. O sal, que um dia curou feridas, agora revigora a alma.


Chega o momento de ir. Pergunto a uma senhorinha que faz seu exercício matinal no calçadão: "que horas são?". Ela sorri ao me ver completamente ensopada e direciona o olhar para o relógio. Antes que a resposta seja dada, eu sigo para casa. Não importa. Não há o que esperar nem desesperar. Há paz. Poderia até comer um algodão doce.

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